terça-feira, 9 de outubro de 2007

Comentários 1-2


Os manuscritos
Nos tempos antigos a escrita era manual, ou também chamada manuscrita, e eram utilizados inúmeros materiais sobre os quais se executava, como pedra, argila, madeira , papiros, pergaminhos etc.
A revelação foi registrada sobre papiros algumas vezes e em pergaminhos na sua maior parte.
Os papiros eram confeccionados com um vegetal muito comum no oriente, o Papiro. Para a sua fabricação utilizava-se das fibras do talo, onde depois de uma certa preparação, era feita a escrita. Estes eram guardados em forma de rolos ou de códices com uma encadernação à semelhança da atual.
Já os pergaminhos eram fabricados com couros bovinos, ovinos ou caprinos tratados com produtos químicos como cal, que por serem começados a usar em Pérgamo, cidade da Ásia, recebem este nome.
Estes documentos em grande parte são ainda conservados em museus e bibliotecas da Europa e Oriente. Ou guardados em forma de fotografias ou microfilmes como o da figura, que corresponde a trecho do capítulo oito de Daniel.

Você pode pesquisar muito sobre este tema na Internet ou em literaturas específicas sobre o assunto.
Consulte --> Manuscritos, numa boa Enciclopédia da Bíblia como por exemplo,
Enciclopédia de la Bíblia – Ediciones Garriga. AS – Barcelona - Espanha.

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Outras informações importantes
HISTÓRIA sobre Os Originais da Bíblia.
O Antigo Testamento em Hebraico
Este relato tem início muitos séculos antes de Cristo. Escribas, sacerdotes, profetas, reis e poetas do povo hebreu mantiveram registros de sua história, do relacionamento de Deus com eles e de suas visões inspiradas e esperanças. Como tais registros constituíam uma parte muito importante da vida deles, eles foram copiados e re-copiados muitas vezes. De geração em geração tais registros foram usados por eles nos templos, em suas sinagogas e residências.
Com o passar do tempo, estes registros sagrados foram reunidos em três coleções conhecidas como "A Lei", "Os Profetas", e "As Escrituras". Estas três coleções, especialmente a terceira, não foram fixadas e encerradas antes do Concílio Judaico de Jamnia (ao redor de 95 A.D.). A Lei continha os primeiros cinco livros da nossa Bíblia. Os Profetas incluíam não apenas Isaías, Jeremías, Ezequiel e os Doze Profetas Menores, como também Josué, Juizes, I e II Samuel, e I e II Reis.
Os livros do Antigo Testamento foram escritos em longos pergaminhos fabricados com pele de cabra fina, e foram copiados por escribas com extremo cuidado. Geralmente cada um destes livros era escrito em um pergaminho separado, embora a Lei freqüentemente estivesse copiada em dois grandes pergaminhos. O texto era em hebraico, escrito da direita para a esquerda. (Apenas alguns capítulos encontram-se escritos em dialeto aramaico.)
O trecho mais antigo do Antigo Testamento em Hebraico* hoje conhecido é um pergaminho de Isaías. Este pergaminho provavelmente foi escrito durante o segundo século A.C. e pode ser muito semelhante ao pergaminho utilizado por Jesus na Sinagoga em Nazaré. Ele foi descoberto em 1947, assim como outros que foram descobertos posteriormente dentro de uma caverna próxima ao Mar Morto.
As Escrituras incluíam o grande livro de poesia, os Salmos, e também Provérbios, Jó, Ester, Cantares de Salomão, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Daniel, Esdras, Neemías, e 1º e 2º Crônicas.
Os Manuscritos ou Documentos do Mar Morto tiveram grande impacto na visão da Bíblia, pois fornecem espantosa confirmação da fidelidade dos textos massoréticos aos originais. O estudo da cerâmica dos jarros e a datação por carbono 14 estabelece que os documentos foram produzidos entre 168 a.C. e 233 d.C. Destacam-se, nestes documentos, textos do profeta Isaías, fragmentos de um texto do profeta Samuel, textos de profetas menores, parte do livro de Levíticos e um targum (paráfrase) de Jó.
O Antigo Testamento em Grego
A língua grega restringia-se quase inteiramente à Grécia, mas muito antes do tempo de Cristo existiram comunidades israelitas em muitas regiões do mundo antigo. Devido às conquistas de Alexandre e seus sucessores, o grego havia se transformado na língua mais amplamente utilizada. Portanto, no terceiro século A.C. as Escrituras Hebraicas foram traduzidas para grego, para serem utilizadas naquelas comunidades. Esta tradução grega é denominada "Septuaginta".
A Septuaginta contém sete livros que não fazem parte da coleção hebraica; eles não estavam incluídos quando o cânon do Antigo Testamento (ou lista oficial) foi estabelecido por exegetas israelitas ao final do primeiro século D.C. A igreja primitiva geralmente incluía tais livros em sua Bíblia. Eles são chamados "Apócrifos" ou "Deuterocanon", e encontram-se presentes nas Bíblias de muitas igrejas.
Este Antigo Testamento em Grego foi utilizado em sinagogas de todas as regiões do Mediterrâneo, e foi portanto de grande utilidade para os primeiros discípulos de Jesus em seus esforços para ganhar convertidos a Ele.
E como a língua grega era compreendida em todas aquelas regiões, os escritores do Novo Testamento escreveram em grego.
O Novo Testamento em Grego
Os primeiros manuscritos do Novo Testamento que chegaram até nós são algumas das cartas do Apóstolo Paulo escritas à pessoas ou pequenos grupos de pessoas em diversas cidades e povoados que haviam crido no Evangelho que ele lhes pregara. Estes grupos foram o início da igreja cristã. Eles receberam estas cartas, deram-lhes grande valor e preservaram-nas com todo cuidado. Logo depois grupos de convertidos vizinhos desejaram ter cópias, e foi assim que as cartas de Paulo começaram a circular. A necessidade de ensinar novos convertidos e o desejo de relatar o testemunho dos primeiros discípulos em relação a vida e os ensinamentos do nosso Senhor também levaram à escrita dos Evangelhos. Eles constituem uma fonte inestimável de informações sobre Jesus e seus ensinamentos. Estes manuscritos passaram a ser muito solicitados a medida em que as igrejas cresciam e se espalhavam. Outras cartas, exortações, sermões, e manuscritos cristãos semelhantes também passaram a circular.
O mais antigo fragmento do Novo Testamento hoje conhecido é um pequeno pedaço de papiro escrito no início do segundo século A.D. Ele contém algumas palavras de João 18:31-33, no verso contém palavras dos versículos 37 e 38. Nos últimos cem anos descobriu-se uma quantidade considerável de papiros contendo o Novo Testamento e o texto em grego do Antigo Testamento. Estes manuscritos daqueles primeiros tempos revelam muito aos estudiosos sobre a vida na época em que o Novo Testamento foi escrito, e sobre os primeiros textos da Bíblia.
Principais manuscritos
O Novo Testamento tem como característica principal uma imensa quantidade de escritos e evidências externas. Alguns manuscritos, entretanto, merecem destaque. São eles:
Os papiros - produzidos quando o movimento iniciado pelos discípulos de Jesus ainda era ilegal. Datam dos séculos II e III d.C. e constituem valioso testemunho da veracidade do Novo Testamento, pois surgiram a apenas uma geração dos autógrafos originais. Seus representantes mais importantes são:
· · p52 ou fragmento de John Rylands (117 - 118 d.C.) - encontrado no Egito, contendo parte do Evangelho de João;
· · p45, p46 e p47 ou Papiros Chester Beaty (250 d.C.) - contendo quase todo o Novo Testamento (o p45 contém os Evangelhos e o livro de Atos dos Apóstolos; o p46, a maior parte das cartas de Paulo; e o p47, parte do Apocalipse);
· · p66, p72 e p75 ou Papiros de Bodmer (175 - 225 d.C.) - igualmente importantes, incluindo-se entre eles Unciais cuidadosamente impressos e com muita clareza (o p66 contém parte do Evangelho de João e data do ano 200; o fragmento p72 contém cópias de Judas e de I e II Pedro; e o p75 contém a mais antiga cópia do Evangelho de Lucas (175 a.C.).
Os Unciais - manuscritos em caracteres maiúsculos, escritos em velino e pergaminho. Constituem os escritos mais importantes do Novo Testamento, dos séculos III a V. Existem cerca de 297 Unciais, entre eles:
· · Códice Vaticano - é o mais antigo dos Unciais (325 - 350 d.C.) e foi desconhecido dos estudiosos bíblicos até 1475, quando foi catalogado na biblioteca do Vaticano; contém a maior parte do Antigo Testamento (versão dos LXX) com os apócrifos e o Novo Testamento em grego;
· · Códice Sinaítico (Álefe) - data do século IV e possui poucas omissões;
· · Códice Efraimita - originou-se em Alexandria, no Egito, em cerca de 345 d.C.;
· · Códice Alexandrino - data do século V;
· · Códice Beza ou Cambridge - cerca de 500 d.C.; é o manuscrito bilíngüe mais antigo do Novo Testamento. Foi escrito em grego e latim;
· · Os Minúsculos - documentos escritos em caracteres minúsculos que datam dos séculos IX ao XV, somando mais de 4000 documentos, entre manuscritos e lecionários (livros muito utilizados nos cultos da Igreja, que continham textos selecionados da Bíblia para leitura, incluindo o Novo Testamento).
© 2002 Aldenei Moura Barros
Aldenei Moura Barros.É professor do Ensino Médio da rede pública do Estado do Amazonas. Graduado em Filosofia pela UFAM. Bacharel em Teologia pela Faculdade Teológica ABECAR de Mogi das Cruzes-SP. Especialista em Tecnologia Educacional pela UFAM. Mestrando em Teologia pela Faculdade Teológica ABECAR.
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HISTÓRIA - Achado dos Documentos mais antigos
Há cinqüenta anos, dois beduínos encontravam centenas de pergaminhos enterrados no deserto. Hoje, setenta cientistas estão prestes a terminar a tradução dos Manuscritos do Mar Morto, os mais antigos textos bíblicos conhecidos.
Como uma cabra mudou a História
Num final de tarde em abril de 1947, Juma Muhammed espreguiçou-se e decidiu que era hora de recolher o rebanho. Subiu em um rochedo, atrás de uma cabra, e aí algo chamou sua atenção: duas aberturas nas rochas. Eram cavernas, bem pequenas. Um homem teria que se espremer para entrar. Atirou uma pedra pelo buraco e ouviu o barulho de um vaso se quebrando. Desde Ali Babá, o que mais poderia haver numa caverna do deserto senão um tesouro? Juma chamou o primo que estava embaixo, Muhammed Ahmed (também conhecido como “Lobo”), e os dois examinaram a entrada. Como já estava escurecendo, resolveram voltar para o acampamento — as tendas dos beduínos nômades taamireh, na margem do Mar Morto, perto de Qumran — e retornar depois.
No dia seguinte, Lobo deu o golpe. Acordou de madrugada e correu à caverna sozinho. Esgueirou-se lá dentro e descobriu, contra o fundo, uma fila de jarros esguios e tampados. Havia entulho e cacos no chão. Penosamente, arrastou-se pelo chão e enfiou a mão em um deles. Nada. Vasculhou nove jarros freneticamente. Nada. No décimo, agarrou algo enrolado em tecido. Achou três rolos de pergaminho, envoltos em linho e couro. Abatidíssimo, foi acordar os primos sonolentos.
É claro que era um tesouro. Arqueológico. Naquela manhã, Lobo descobriu o mais antigo original existente do Livro de Isaías, da Bíblia, o Comentário de Habacuc (outro profeta judaico) e o Manual de Disciplina dos essênios — a seita de eremitas judeus que enterrou seus textos para protegê-los de um ataque romano no ano 68 d.C. Preservaram os escritos, mas o seu convento foi arrasado. Restam, hoje, as ruínas de Qumran.
Cinqüenta dólares
Os taamireh voltaram à caverna, tiraram os jarros de dentro, abandonaram-os na estrada e levaram os pergaminhos que acharam para Belém, mal dobrados nas bolsas. O Manual de Disciplina chegou partido em dois. A cidade estava sob Lei Marcial. Eram os últimos dias do domínio inglês, os judeus queriam a independência de Israel, havia combates e atentados. Em meio ao tumulto, ofereceram os rolos a mercadores, mas ninguém se interessou. Um sapateiro concordou em vendê-los em troca de comissão.
Em maio, um dos pergaminhos foi oferecido ao bispo Athanasius Samuel, da igreja cristã ortodoxa síria de Jerusalém, o primero a intrigar-se. De saída, percebeu que, se o manuscrito não fosse uma falsificação e tivesse vindo do Mar Morto., deveria ser antigo, pois aquela região era desabitada desde o começo do cristianismo. Um mês depois, o sapateiro lhe vendeu cinco rolos por um preço jamais revelado. Diz a lenda que custou 50 dólares.
Recuando a História
Em março de 1948, os exames paleográficos confirmaram: o Livro de Isaías era do ano 100 a.C. Imagine-se o nervosismo. O mais antigo original existente do Velho Testamento era da Idade Média. A destruição de Jerusalém pelos romanos, no ano 70, não poupou documentos. A mais velha Bíblia judaica, encontrada em Alepo, na Síria, era do século X. O mais remoto documento judeu existente era uma Mishná, o código dos rabinos, do ano 200. Quanto ao Novo Testamento (cristão), o original mais antigo era o Papiro John Ryland, um fragmento do Evangelho de São João, do ano 125, em grego, da Biblioteca John Ryland, da Universidade de Manchester, Inglaterra.
Os manuscritos, portanto, eram provas materiais de uma história passada 2 000 anos antes. Tão logo a notícia se espalhou, beduínos e arqueólogos vasculharam 267 cavernas na região de Qumran. De 1951 a 1956, o padre Roland de Vaux, da Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém, escavou as ruínas, então desconhecidas, e descobriu o convento dos essênios.
No total, cerca de 900 manuscritos, escritos em hebraico, aramaico e grego, foram achados em mais dez cavernas, numeradas, então, de 1 a 11. Outros sítios arqueológicos associados a Qumran, também com pergaminhos, foram descobertos, como a fortaleza judaica de Massada, no sul do Mar Morto. Muitos rolos estavam em bom estado, mas a maioria não resistiu aos séculos e despedaçou-se. A caverna 4 enlouqueceu os paleógrafos: continha 575 dos 900 manuscritos, mas em 15 000 pedaços, alguns do tamanho de uma unha. Antes da tradução, um quebra-cabeças infernal, faltando peças, devia ser montado.
“Os manuscritos são a maior descoberta arqueológica do século”, disse à SUPER o padre católico e filólogo Emile Puech, da Escola Bíblica e Arqueológica Francesa, um dos tradutores. “Basta considerar sua idade, diversidade e conteúdo.” Outro tradutor, o teólogo Eugene Ulrich, da Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos, especifica: “É a mais importante descoberta da história religiosa do Ocidente.”
O arquivo dos essênios revelou pergaminhos do ano 225 a.C. ao ano 65 d.C., contemporâneos, portanto, de Jesus Cristo (que morreu no ano 33, aproximadamente). Possuía originais de 22 dos 23 Livros do Antigo Testamento (a exceção é o Livro de Esther) e vasta literatura não bíblica. Tem, assim, a mais antiga palavra registrada do Deus judaico-cristão: um fragmento do Livro de Samuel, do ano 225 a.C., achado na caverna 4.
Graças à descoberta, as cópias do Antigo Testamento feitas por gregos, latinos, sírios, etíopes e bizantinos, durante séculos, podem ser conferidas. Os manuscritos iluminaram a história do judaísmo e as raízes do cristianismo.
O triunfo da ciência sobre a vaidade
Nunca houve uma tradução igual. Em janeiro passado saiu o volume 22 e, agora, em abril, foi publicado o volume 15 das Descobertas do Deserto da Judéia, pela Oxford University Press — a edição oficial dos Manuscritos. Sai um volume a cada três meses, fora de ordem porque os tradutores trabalham autonomamente. Setenta paleógrafos, filólogos, lingüistas e teólogos em Israel, na Europa e nos Estados Unidos contribuem para a obra, prevista para 39 volumes. Até dezembro, todos os textos referentes à Bíblia serão publicados. A edição dos demais será concluída só no ano 2000.
O que falta? Falta publicar a tradução, já feita, de pergaminhos da caverna 11 e montar os fragmentos da caverna 4, ainda não decifrados. “São textos desconhecidos cujo entendimento apresenta surpresas e problemas”, diz Eugene Ulrich. Emile Puech confirma: “Demoraremos mais alguns anos para terminar com a caverna 4.”
Como muitos pergaminhos estavam despedaçados em partes minúsculas, a primeira tarefa dos pesquisadores foi enfrentar o quebra-cabeças. Para montá-lo, os paleógrafos analisam a pele do pergaminho, a escritura (a tinta, a pena usada), o estilo literário e a caligrafia do escriba. Até o “padrão de estrago” ajuda a agrupar fragmentos de rolos atacados por roedores, insetos ou umidade que geram danos similares. A Genética identifica as peles de um mesmo animal. Sua origem e idade pode ser precisada comparando os dados com genes de fósseis do Mar Morto. A análise do DNA permite encaixar fragmentos na ordem certa.
A tradução avançou, mas não acabou. Mas pelo menos acabou o mistério: os textos que ainda faltam da caverna 4 referem-se à organização dos essênios. “Não há nenhuma bomba teológica”, diz Geza Vermes. Ou seja, não haverá revelações estrondosas.
Complô policial
A novela científico-policial da tradução começou em 1951, quando o governo da Jordânia — que controlava a margem ocidental do Rio Jordão, onde está Qumran, e a parte oriental de Jerusalém, ambas anexadas por Israel em 1967 — montou a primeira equipe de tradutores. Foram escolhidos sete eruditos, a maioria padres católicos, filólogos da Escola Bíblica e Arqueológica Francesa. Por motivos políticos, pesquisadores judeus foram excluídos. A equipe embarcou numa missão impossível. Os sete simplesmente dividiram 500 textos entre si. Houve excesso de autoconfiança e vaidade intelectual nessa empreitada que, afinal, prometia revirar o cristianismo.
Resultado: somente um tradutor, o inglês John Allegro, conseguiu publicar o que devia. Mas seu trabalho ficou tão ruim que o artigo com correções é mais longo que o original. De 1960 a 1990 — trinta longos anos —, a equipe publicou apenas 100 dos 500 textos encomendados. E impediu o acesso dos outros pesquisadores. As solicitações dos estudiosos “de fora” para examinar os pergaminhos foram recusadas. E quando membros da equipe faleceram, seus textos foram “legados” a colegas de confiança, como se fossem herança.
Três décadas de sigilo alimentaram teorias conspiratórias. Muitos acreditavam que o Vaticano, por meio da influência sobre os padres tradutores, estaria impedindo revelações dos pergaminhos que abalariam a religião cristã. “Inventou-se um complô — diz o padre Puech — digno de um romance policial.” Em 1977, o professor Geza Vermes, de Oxford, chegou a chamar a tradução oficial de “o maior escândalo acadêmico do século XX”.
Pressão pela transparência
Em 1985, a Biblical Archaeology Review, dos Estados Unidos, começou uma campanha pela “liberação dos manuscritos”. Mas a abertura foi gradual. Primeiro, o governo de Israel, que assumira o controle dos documentos desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967, decidiu em 1991 criar uma nova comissão de editores-chefes, formada por Emanuel Tov, da Universidade Hebraica de Jerusalém, Eugene Ulrich e Emile Puech. Finalmente, em novembro do mesmo ano, a Biblioteca Huntington, da Califórnia, acabou com as especulações, tornando públicas fotocópias de todos os fragmentos. Com isso, a exclusividade sobre o material trancafiado em Jerusalém perdeu o sentido. Venceu a transparência.
O sensacionalismo também perdeu. O que os manuscritos afinal revelaram foi a diversidade de um judaísmo em transição, antes da catástrofe provocada pelos romanos. Depois do ano 70, as seitas desapareceram, com exceção dos cristãos e dos fariseus, os fundadores do judaísmo rabínico. A literatura de Qumran e a cristã derivam, portanto, de uma tradição judaica comum, da qual importaram rituais de batismo, refeições comunitárias, ascetismo e até modelos de organização: os essênios se dividiam em doze tribos, tal como a igreja cristã, estruturada em doze apóstolos. “Os manuscritos não mudaram minha visão de cristão”, diz Puech. “Revelaram o ambiente judeu, as crenças e práticas da época. Neles, os textos evangélicos encontram um fundo histórico, um país, um território.”

Adaptado de: Ricardo Am

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